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O Dharma Quando Encontra um Instrutor Sênior que Passou por Cinco Angôs

  • shorinsite
  • 22 de set. de 2022
  • 7 min de leitura

Taitaiko Gogejarihô


Texto de “Eihei Shingi” – “Regras Puras para a Comunidade Zen”

Dogen Zenji


1- Quando encontrar um instrutor sênior que tenha passado por cinco angôs, você deve vestir seu okesa e trazer o seu zagu[2].


2- Não use o okesa cobrindo os dois ombros. Um sutra diz: “Quando monges encontram Buddha, ou outros monges ou seniores, eles não devem usar o okesa sobre os dois ombros. [Se eles o fizerem], quando morrerem, eles entrarão no Inferno dos Grilhões de Ferro”[3].


3- Não se apresente em pé olhando para um sênior, enquanto estiver encostado em alguma coisa com suas pernas cruzadas.


4- Não se apresente em pé olhando para um sênior com seus braços balançando.[4]


5- Nunca ria ruidosamente, sem envergonhar-se ou causar constrangimentos.


6- Apresente-se de acordo com o “Dharma do Servir ao seu Mestre.”[5]


7- Se você é admoestado, faça uma reverência polidamente e ouça e aceite; e, de acordo com o Dharma, contemple e reflita sobre o que foi dito.


8- Sempre estimule uma mente humilde.


9- Não se coce ou cate piolhos enquanto estiver com um sênior.


10- Não cuspa na frente de um sênior.


11- Não mastigue seu palito de dentes [yôji] ou enxágue sua boca enquanto estiver frente a um sênior.


12- Se o sênior não lhe convidou a se sentar [quando você estiver entre eles], não se sente informalmente.


13- Quando sentado na mesma plataforma, ao lado de um sênior de cinco angôs, não o toque [acidentalmente].


14- Não se sente no lugar onde um sênior de cinco angôs normalmente se senta ou descansa.


15- Você deve saber que qualquer um que tenha feito cinco ou mais angôs, tem a posição de ajari [instrutor]; alguém que tenha dez angôs ou mais, tem a posição de oshô [alto sacerdote]. Isto não é nada além um suave orvalho do dharma sem máculas.


16- Quando uma respeitável pessoa de cinco angôs pedir para você sentar, faça gasshô e reverência; só então se sente. Cortesmente sente-se ereto e não encoste na parede.


17- Quando se sentar, não seja rude ou indulgente, recostando-se em algum móvel.


18- Se houver discussão, você deve permanecer humilde e não tentar ganhar uma posição superior.


19- Não abra sua boca demasiado enquanto estiver bocejando; mas, cubra-a com sua mão.


20- Quando estiver diante de um sênior, não esfregue sua face, bata em sua cabeça com suas mãos, ou brinque com suas pernas ou braços.


21- Diante de um sênior não faça grandes barulhos de resfolegar ou suspiros. Comporte-se com decoro, de acordo com o Dharma.


22- Quando estiver diante de um sênior, mantenha seu corpo ereto e estável.


23- Se você vir um sênior chegando ao lugar onde você se encontra conversando com outro sênior; dê a eles o seu assento, abaixe a sua cabeça e aguarde por um momento pelas instruções dos seniores.


24- Quando você estiver do outro lado da parede do aposento de um sênior, não recite as escrituras em voz alta.[6]


25- A menos que um sênior lhe peça para fazê-lo; não explique o dharma para as pessoas.


26- Se um sênior lhe perguntar algo, você deve dar a resposta apropriada.


27- Sempre observe a expressão de um sênior e não lhe cause desapontamento ou angústia séria.


28- Enquanto estiver diante de um sênior, não troque mesuras com seus pares.


29- Diante de um sênior não aceite prostrações de outros.


30- Se houver algum trabalho pesado a fazer, onde esteja um sênior, faça-o, primeiro, você mesmo. Quando há alguma coisa agradável, ofereça-a ao sênior.


31- Se você se encontrar com um instrutor sênior que tenha passado por treinamento em cinco angôs, você deverá reverenciá-lo como um ancião. Não perca seu entusiasmo.


32- Se você tiver intimidade com um sênior que tenha feito cinco ou dez angôs, você deve, mesmo assim, perguntar a ele sobre o significado dos sutras e dos preceitos. Não se torne negligente ou preguiçoso.


33- Quando você percebe que um sênior está doente, você deve, respeitosamente, alimentá-lo e ajudá-lo a se recuperar de acordo com o dharma.


34- Quando você estiver diante de um sênior ou perto de seu quarto, não pronuncie palavras que não sejam benéficas ou que não tenham bom significado.


35- Quando diante de um sênior, não discuta pontos bons e maus ou a força e fraqueza de honoráveis mestres de outros templos[7].


36- Você não deve ignorar um sênior e entrar numa conversa ou questionamento sem propósito.


37- Não raspe sua cabeça, corte suas unhas, ou troque suas roupas de baixo quando na presença de um sênior.


38- Quando um sênior ainda não estiver adormecido, não vá dormir antes dele.


39- Quando um sênior ainda não começou a comer, não coma antes dele.


40- Quando um sênior ainda não tomou banho, não se banhe antes dele.


41- Quando um sênior ainda não se sentou, não se sente antes dele.


42- Se você encontrar um senior no caminho, reverencie-o com inclinação do corpo e, então, siga atrás do sênior. Se você receber alguma instrução do sênior, simplesmente obedeça-o e então retorne [ao que você estava indo fazer].


43-Se você perceber que um sênior esqueceu alguma coisa por engano, mostre-lhe cortesmente.


44- Se você vir um sênior cometendo algum erro, não ria ruidosamente.


45- Se você visitar o quarto de um sênior, primeiro estale os seus dedos (médio e polegar) três vezes no lado de fora da porta, antes de entrar.


46- Se você entrar no quarto de um sênior, entre beirando um lado do vão da porta. Não entre pelo centro do espaço da porta[8].


47- Quando você entrar ou sair do quarto de um sênior, tanto de cinco, como de dez angôs, você deve usar a escada de convidados, não a escada do anfitrião.[9]


48- Se um sênior ainda não tiver terminado de comer a refeição, não termine a sua antes dele.


49- Quando um sênior ainda não se puser em pé, não se levante antes dele.


50- Se um sênior estiver explicando os sutras para um doador, sente-se adequadamente ereto e ouça-o cuidadosamente. Não se levante rapidamente e saia. [10]


51- Não repreenda alguém que você pretende repreender, enquanto estiver diante de um sênior.


52- Diante de um sênior, não chame ninguém à distância em voz alta.


53- Não desate o seu okesa, deposite-o no quarto do sênior e, então, saia.


55- Quando um sênior estiver ensinando sobre um sutra, não corrija seus enganos desde um assento inferior.


55- Diante de um sênior, não levante seus joelhos e os envolva com seus braços.


56- Quando um sênior estiver em um lugar inferior e você estiver num lugar mais alto, vocês não devem se curvar um para o outro.


57- Não faça reverência para um sênior desde o alto de seu assento.


58- Quando você estiver em seu lugar e vir um sênior de pé, embaixo , não o reverencie em shashu.[11]


59- Você deve estar atento quando um professor sênior estiver presente.


60- Quando o discípulo de um sênior estiver presente, esteja atento sobre suas maneiras para com o professor e não perturbe o sênior.


61- Quando um sênior se encontra junto com outro sênior, nenhum deles precisa seguir estas instruções (de encontro com um sênior).


62- Ver seniores é infindável. Na primeira prática de verão nós vemos seniores; no momento da suprema realização[12], nós vemos seniores.


O dharma anterior para encontros com sêniores de cinco ou dez angôs, é exatamente o corpo e a mente dos buddhas e ancestrais. Não deixe de estudar isto. Se você não estudar isto, o Caminho dos mestres ancestrais degenerará e o doce orvalho do dharma será extinto. No vasto céu do reino do dharma, isto é raro e difícil de encontrar. Somente pessoas que desenvolveram faculdades saudáveis através de vidas passadas podem ouvir isto. Em verdade, este é o último degrau do Mahayana.


Ensinado à Assembléia no Segundo ano de Kangen (i.e., 1244), no terceiro mês, no vigésimo primeiro dia, na Província de Echiza, no Templo Yoshimine.[13]


[1] N. T. – Um “angô” é um período de prática intensiva, de 90 dias ou mais; originalmente realizado na época das chuvas de verão na Índia e, atualmente, realizadas uma, duas ou até três vezes por ano nos mosteiros japoneses.


[2] “Sênior” é taiko (maior do que si mesmo). “Instrutor” é ajari, usado em sânscrito é acharya, qualquer monge sênior qualificado para ter discípulos. No tempo de Dogen, os períodos de treinamentos de três meses eram feitos uma vez por ano, durante o verão. “Dharma” visto no título deste ensaio se refere a “ensinamentos” sobre a atitude adequada diante da prática com outros; mas, eles podem, obviamente denotar as “maneiras” e, até, a “etiqueta” para os encontros com sêniores.


[3] No Soto Zen moderno, o okesa é normalmente usado sobre o ombro esquerdo, como é feito pelos monges budistas. Quando na outorga da ordenação, ou durante a cerimônia de arrependimento, o monge que preside a cerimônia usa o okesa sobre os dois ombros. [NT: o uso do okesa sobre os dois ombros significa estar representando o próprio Buddha]. “Sênior” aqui e em alguns outros lugares deste ensaio é jôza, o que parece ser usado intercambiado com taiko. [NT: no Soto Zen moderno, o termo jôza é usado para referir-se a um noviço que ainda não foi shuso e ainda não realizou o combate de darma].


[4] NT – Sem estar em Shasshu.


[5] O “Dharma de Serviço ao seu Mestre” é um texto tanto atribuído aos Ancestrais Indianos como a outros textos que têm o mesmo nome por Daoxuan.


[6] NT – No Japão, as paredes divisórias internas nas casas de construção tradicional são de papel.


[7] “Honorável Mestre” é sonshuku (anciãos veneráveis).


[8] As instruções para se entrar nos quartos de seniores nos lembra das instruções para entrar no salão dos monges. Veja o terceiro parágrafo de “O Dharma para Receber Alimentos”. (Fushuku Hanpô)


[9] A expressão “Escada de convidados e de anfitrião” não está clara. Pode ser que se refira aos lados esquerdo e direito das escadas que dão em um quarto de sênior.


[10] “Doador” é danotsu, derivado do sânscrito danapati. Dana, generosidade, é a primeira das seis perfeições no Buddhismo Mahayana. É o sistema de manutenção (patrocínio) para Templos budistas japoneses, desde o século dezessete, chamado de danka.


[11] (NT: os assentos para o zazen (tan) ficavam numa altura de mais ou menos 80 cm do chão).


[12] “Suprema realização” é gokuka (resultado final), que se refere ao fruto da prática e é igual ao estado de buddha.


[13] Templo Yoshimine é um pequeno templo perto de Eiheiji, onde a comunidade de Dogen permaneceu por volta de um ano enquanto se construía o Eiheiji.


Tradução: Pedro Federsoni, Sanga Águas da Compaixão

Revisão: Monja Isshin, janeiro, 2009


 
 
 

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